sábado, 2 de fevereiro de 2008

a proposta

OFICINA VIVENCIAL DE ARTE CONTEMPORÂNEA

“O LUGAR DO ARTISTA”

Rubens Pilegi das Silva Sá

OBJETIVO DA AÇÃO


Sendo dados:

“O nome Ariquemes é uma homenagem à tribo indígena Arikeme, habitantes originais dessa região, estes índios falavam o txapakura, dentro do grupo lingüístico tupi, a tribo foi extinta, mas gravou seu nome na história de Ariquemes. O município foi fundado em 21 de novembro de 1977[1].

Colocar em relevo a realidade local de ARIQUEMES em referência ao contexto do Brasil e do mundo hoje, sob a perspectiva de alguns textos de dois livros. O primeiro, TERRA SEM MAL, de Helenè Clastres, narra a história do mito tupi-guarani de um lugar similar ao “paraíso” cristão, só que neste mundo. O segundo livro, TAZ (Zonas Autônomas Temporárias), de Hakim Bey, em que o autor discute a questão da mobilidade em nossos tempos e sobre as possibilidades do uso dos meios tecnológicos, hoje.

JUSTIFICATIVA

A internet permite hoje um nível de comunicação só imaginado, há poucas décadas, em romances ou na ficção científica. Embora a enorme quantidade de informações seja acrítica, isso não se configura no todo. Além disso, diferente das outras mídias, a rede permite a interatividade, criando uma mobilidade maior dos meios de comunicação. Assim, a idéia de centro e periferia vem sendo alterada, cada vez mais, substituída por aquilo que a filosofia denomina de rizoma[2].

Usar dos meios que esse tipo de comunicação possibilita é um terreno que pode ser muito explorado, ainda. A realidade não é percebida mais só como o estado físico da matéria, pois a virtualidade também é realidade. Estamos aqui e lá. Agora e então, ao mesmo tempo.

O artista, nessa situação, é uma espécie de condutor que faz a passagem do mundo das experiências sensíveis para o mundo prático, transformando em obra o produto dessa passagem. Desse modo, pode ser comparado ao “xamã” ou ao pajé indígena, cujos atributos são os de trazer as mensagens do mundo dos mortos para os vivos, com o intuito de resolver problemas da comunidade: do espiritual para o concreto, material[3].

Em relação ao mundo da arte, talvez tenha sido o alemão Joseph Beuys – que nos anos 70 e 80 dizia que a sociedade tinha um trauma que poderia ser curado através da arte[4] – que mais longe foi nessa idéia de artista-xamã.

A proposta dessa oficina/vivência, então, se justifica na medida em que O LUGAR DO ARTISTA é sempre um lugar que está na passagem entre o corpo e a alma, entre o real e o virtual, entre o simbólico e a “coisa em si”.

DESCRIÇÃO

Pretende-se, com essa oficina de vivências, levantar dados e idéias para a produção de trabalhos onde questões sociais e ambientais possam ser ditas através do discurso da arte, incorporando tais assuntos como tema e, ao mesmo tempo, como linguagem[5].

Pesquisa de campo, caminhadas, performances, registros fotográficos e videográficos, invenção de mapas, desenhos de observação, criação de textos poéticos ou críticos, trabalhos realizados em computador, enfim, tudo poderá tornar-se “obra” dentro de um processo cujo destino é a própria experiência da vivência durante a época da oficina, tendo a idéia de redes como possibilidade de trocas.

METODOLOGIA

  1. Apresentações e expectativas de resultados;
  2. Amostragem de trabalhos artísticos: Apresentação de vídeos de ações de artistas como referência de linguagem;
  3. Mostra de trabalhos pessoais do professor/artista/propositor da oficina de vivência;
  4. Leitura de textos como ponto de partida e questionamento de meios e uso de linguagens;
  5. Propostas e possibilidades de realização de trabalhos;
  6. Tema para debate: Colocar em relevo a questão da identidade dos habitantes de Ariquemes, como marca distinta de uma região marcada pela mistura entre as diversas e distintas migrações ocorridas na região e dessa relação com a natureza e o índio;
  7. Algumas sugestões para o desenvolvimento criativo: (a) Apropriar-se de imagens da internet questionando seu significado e fazendo intervenções nas mesmas, de maneira a perceber a realidade de outras formas; (b) Partindo da realidade local, discutir propostas de intervenções públicas, performances e ações coletivas;
  8. Desenvolvimento de propostas;
  9. Apresentação dos trabalhos.

CARGA HORÁRIA

2 horas diária x 5 encontros = 10 horas (com possibilidade de ampliação desse tempo conforme a disponibilidade dos participantes).

NÚMERO MÁXIMO DE PARTICIPANTES: 20

PERFIL DOS PARTICIPANTES: Estudantes e professores de arte; artistas (desenho, pintura, foto, vídeo); pessoas com noção de internet, edição de imagens e vídeos no computador; escritores interessados em artes plásticas e; profissionais da área de humanas interessados em estética.

MATERIAL COM DESCRIÇÃO E QUANTIDADES

Necessidades de sala de aula:

  • TV com Vídeo ou computador com leitor de DVD;
  • Projetor de imagens;
  • Computador com conexão rápida de internet;

Para os alunos:

  • Trazer o material com que desejam trabalhar.

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Resumo:


O LUGAR DO ARTISTA – uma oficina de vivências

A proposta desta oficina de vivências é a de levantar dados e idéias para a produção de trabalhos onde questões sociais e ambientais possam ser ditas através do discurso da arte, incorporando tais assuntos como tema e, ao mesmo tempo, como linguagem.

Pesquisa de campo, caminhadas, performances, registros fotográficos e videográficos, invenção de mapas, desenhos de observação, criação de textos poéticos ou críticos, trabalhos realizados em computador, enfim, tudo poderá tornar-se “obra” dentro de um processo cujo destino é a própria experiência da vivência durante a época da oficina, tendo a idéia de redes como possibilidade de trocas.



[2] Deleuze, Gilles e Guattari, Félix. Mil Platôs - (vol.5, cap.15: Regras Concretas e Máquinas Abstratas). São Paulo, Ed.34, 1997; p.221: "... os caules de rizoma não param de surgir das árvores, as massas e os fluxos escapam constantemente, inventam conexões que saltam de árvore em árvore, e que desenraizam: todo um alisamento do espaço, que por sua vez reage sobre o espaço estriado. Mesmo e sobretudo os territórios são agitados por esses profundos movimentos. Ou então a linguagem: as árvores da linguagem são sacudidas por germinações e rizomas. Por isso, as linhas de rizoma oscilam entre as linhas de árvores, que as segmentarizam e até as estratificam, e as linhas de fuga ou de ruptura que as arrastam."

[3] Levi-Strauss. O Pensamento Selvagem. São Paulo: Companhia Ed Nacional, 1976; Eliade, Mircea. Xamanismo e as técnicas arcaicas do êxtase. SP: Martins Fontes, 1998.

[4] Borer, Alain. Joseph Beuys. São Paulo: Cosac Naify, 2001: “O começo de uma nova vida foi o aspecto positivo dessa experiência. Foi um processo terapêutico, a primeira vez que me dei conta de que o artista pode desempenhar um papel importante na cura de um trauma social. Relacionei o que eu tinha vivido com o caos, que identifiquei como um movimento aberto à ordem da forma. Foi assim que nasceram minhas esculturas”.

[5] Isso pelo menos desde o fim dos anos 50. No livro Recodificação – arte, espetáculo, Política Cultural, Hal Foster (São Paulo: Casa Editorial, 1996) coloca a questão sob ponto de vista do pós-modernismo.

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